A onda de arrastões em condomínios
Como os condomínios passaram a ser uma alternativa mais atrativa e menos arriscada para os criminosos.
Os moradores de condomínios de São Paulo estão perdendo o sono. Notícias de arrastões em prédios da capital estão cada vez mais frequentes. Desde o começo de 2010 até o fechamento desse artigo foram 22 assaltos desse tipo na capital paulista, um a mais que todo o ano de 2009, que registrou 21 ocorrências. No mês passado, em São Bernardo do Campo, foi a vez do prédio do Presidente Lula ser surpreendido por bandidos.
Um dos motivos para o aumento do número de casos é a migração de criminosos de uma modalidade para outra, uma espécie de sazonalidade do crime. Por exemplo: assaltos a banco estão cada vez mais difíceis, pois as instituições bancárias investiram pesado em sistemas e câmeras de segurança, na contratação e treinamento de vigilantes e na alteração de procedimentos, como a redução de numerário nas tesourarias. Assim que os criminosos perceberam essa modificação, eles procuraram uma alternativa mais atrativa e menos arriscada: os condomínios.
No Brasil, e em especial nas grandes capitais, a motivação do criminoso está na obtenção de dinheiro em espécie, ou em bens e produtos que são facilmente trocados por dinheiro, como joias, celulares e equipamentos eletrônicos. Todos esses itens são facilmente encontrados nos condomínios, que passaram a ser uma opção bastante interessante para os criminosos.
A situação é agravada pela falta de conhecimento, e muitas vezes, pela negligência dos moradores em relação a sua própria segurança. Condomínios de médio e alto padrão utilizam sistemas de segurança mal dimensionados, incompletos e ineficientes, o que gera nos moradores uma falsa sensação de segurança, quando na verdade estão desprotegidos e a mercê dos bandidos.
Um projeto de segurança parte de uma analise de riscos, onde são encontradas as vulnerabilidades a que o condomínio está exposto. Em seguida, são apresentadas medidas para diminuir os riscos encontrados. Não existe formula mágica ou receita de bolo, cada caso é único e deve ser tratado de maneira personalizada, mas o que vemos são investimentos em sistemas de segurança que se mostram ineficientes, pois não são os adequados para determinado ambiente, foram instalados de forma errada ou em locais equivocados.
A prestação de serviços também precisa ser repensada. A figura romântica do porteiro, simpático e cordial, que distribuía cartas e conversava com os moradores aos poucos é substituída pelo vigilante. Afinal, o ponto crítico de qualquer condomínio é a portaria. Sob os cuidados de uma empresa terceirizada, os profissionais de segurança devem receber treinamento adequado, supervisão constante e remuneração compatível com a responsabilidade que têm. Ao contrário disso, muitos condomínios de luxo, entregam o patrimônio e a vida de seus moradores a “profissionais” que ganham cerca de R$ 650,00 por mês e não tem preparo.
A conscientização dos moradores em relação a adoção e ao cumprimento de normas e procedimentos é outro fator chave para o sucesso de um sistema de segurança. Quem não presenciou um morador questionar, desobedecer e até desrespeitar o profissional que está na portaria apenas fazendo o seu trabalho? Hoje em dia, não há mais espaço para o famoso: “você sabe com quem está falando”?
A onda de arrastões em condomínios é séria e muito preocupante. Assim como os bancos, é necessário investir de forma consciente em equipamentos e na contratação de uma empresa idônea de segurança terceirizada. Os moradores devem formar uma comissão para debater o tema com regularidade, estabelecendo boas práticas para a tranquilidade de todos, e aos poucos, criar uma cultura de segurança, onde ela deixará de ser somente uma sensação para existir de fato.